A viagem do personagem nos mostra que por mais esquisito que seja seu sonho, ele deve ser alimentado
por Thiago Miota
Nunca se afaste de seus sonhos, porque se eles forem, você continuará vivendo, mas também terá deixado de existir. Essas palavras não são minhas, mas do grande escritor Mark Twain, que revelam a importância dos sonhos na vida de alguém, por mais desgraças ou sorte que ele tenha. Os sonhos são o tecido da pele do homem.
No entanto, no caso de Henry(Keanu Reeves), nada disto faz sentido. Em O Crime de Henry(Henry´s Crime, 2010, EUA) ele é uma pessoa que apenas se contenta em ser normal. Da casa para o trabalho, da sua esposa de volta para o trabalho, segue sua rotina inerte. Sem sonhos, vê as coisas acontecendo ao seu redor pacatamente, como se os outros tomassem as decisões por ele, completamente refém das circunstâncias.
Tudo muda quando ele é preso por roubar um banco, crime que não cometeu. Condenado a cumprir três anos, vê sua mulher o trocar por outro homem no momento mais trágico de sua vida. Ele não sofre. Na prisão, conhece o velho Max(James Caan), que lhe pergunta qual era seu sonho. “Acho que não tenho nenhum”, responde Henry. “Bem, o verdadeiro crime é você não explorar o seu sonho”. Passado o tempo de sua pena, agora ele tem um sonho: roubar o banco que não roubou.
O longa marca a estreia de Reeves como produtor. Afastado dos holofotes desde os tempos de "Matrix", apesar de ter feito outros filmes como “A Casa do Lago”, o ator não encontrou o prestígio de outrora. Seu sucesso teve efeitos colaterais, marcando-o como inexpressivo em qualquer papel, fato que ele próprio, agora, parece notar. Aqui, a escolha do personagem torna sua limitação uma virtude.
A intenção do filme é transformar todas as tragédias e infortúnios de Henry em fatos engraçados. Não são. Ao longo da trama podemos ver as mudanças, que aos poucos vai encontrando seu lugar na vida, como quando conhece Julie(Vera Formiga), e decide participar de uma peça de Tchekov. Nada disso será problema, desde que você não espere uma comédia, pois se trata de um verdadeiro drama.
A viagem do personagem nos mostra que por mais esquisito que seja seu sonho, ele deve ser alimentado. Por vezes nos dobramos as imposições que a vida nos faz atribuindo explicações à única verdade: falta coragem. O passo seguinte é a frustração, e a falta de sonhos pode nos fazer ter coisas que não escolhemos. Daí a indiferença diante das tragédias. Twain tinha razão. Os sonhos também podem ser um sofrimento.
Um bom começo para Reeves em sua nova função. Para ficar melhor, falta sonhar com roteiros e diretores melhores.
Avaliação: Regular
Nenhum comentário:
Postar um comentário