sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pirotecnia Deslavada

No longa tudo é secundário perante os efeitos, inclusive a própria história, que parece atrapalhar a ação do filme

por Thiago Miota

Ele é o diretor das catástrofes. Em sua lista aparecem “Armageddon”, “A Ilha”, “Transformes” e “Tranformers: A Vigança dos Derrotados”, sem contar os terrores que produziu como “Sexta-Feira 13” e “A Morte Pede Carona”. Nos tempos em que as pessoas parecem incapazes de se concentrar somente numa coisa só, suas habilidades pirotécnicas tornam-o uma espécie de zeitgeist dos cinemas.

Estou falando do cineasta Michael Bay, que dirige Transformers: O Lado Oculto da Lua(Dark of the Moon,2011,EUA),aparentemente fechando a trilogia. Conhecendo seu currículo, pode-se imaginar o que teremos nas telas.

Desta vez, a história do filme remete a Guerra Fria(com certeza o contexto mais clichê do cinema), no período da corrida espacial entre Estados Unidos e URSS. Sabe-se que os americanos chegaram primeiro, mas foram os russos que estrearam as câmeras. Um dia Optimus descobre que os humanos lhe esconderam algo ocorrido no lado oculto da Lua. Trata-se da queda de uma espaçonave vinda de Cyberton, comandada por Sentinel Prime, que desencadeou a corrida espacial. Agora os Autobots precisam despertar Sentinel, que julgam fundamental para deter os Deceptions. Contudo, eles não imaginavam que aquilo pudesse ser uma armadilha.

No longa tudo é secundário perante os efeitos, inclusive a própria história. O roteiro do filme é tão ruim que nem atores de altíssimo nível como John Turturro, Frances McDormand e John Malkovich conseguem dar sentido para o caos. Somente Shia LaBeouf parece acostumado com tudo aquilo.

Como brigou com o diretor, a atriz e musa dos filmes anteriores, Megan Fox, foi substituída. Para explicar o fato, o personagem de LaBeouf diz que foi chutado, mas que agora está feliz pois encontrou o amor de sua vida, ou seja, a outra não era tudo aquilo. O desenrolar da trama não desenrola, apenas uma confusão de quem vem a Terra, quem vai ficar com o poder, algumas intrigas malfeitas e piadas espalhadas no meio das cenas de ação. Nas poucas vezes que os diálogos aparecem, para não atrapalhar, apenas servem para explicar algum ponto nebuloso do filme.

São mais de duas horas e trinta minutos, um verdadeiro martírio. Poderia ser apenas uma, e ainda seria cansativo. Os feitos especiais e a produção são excelentes, mas depois de alguns minutos perdem a graça.

Se foi tão difícil para assistir, imagine para Michael Bay dirigir. Aliás, antes de começar as filmagens do terceiro, ele próprio revelou que o segundo “foi um lixo”, explicando que havia sido assim por causa da correria. Só que desta vez não há desculpa, e parece que o resultado não ficou muito diferente do último.

A estreia foi acertadamente adiantada para o dia 29 de junho nos Estados Unidos, reservando a sexta para o restante do mundo. Com o que foi arrecadado até agora, estima-se que, somente nesta semana, o filme arrecade cerca de U$350 milhões de dólares. Enfim, eles sabem o que estão fazendo. Talvez venham mais histórias por aí.

Um filme bonito para se ver, mas extenuante de se assistir.

Avaliação: Ruim

Artigo publicado originalmente em www.capitaldaarte.com

Famílias Perdidas

Infelizmente há pessoas que não podemos substituir. É preciso ser forte para entender e aceitar quando perdemos alguém para sempre

por Thiago Miota

As famílias formam à base de qualquer sociedade. Se algum país, estado ou cidade não vai bem e você quiser olhar fundo para encontrar o verdadeiro problema, invariavelmente vai acabar chegando na família. Ela não é culpada de tudo, mas é onde tudo começa. Ignorar este fato pode ser um sério problema.

O filme Corações Perdidos (Welcome to the Rileys, 2010, EUA, Inglaterra) representa muito bem o que estou dizendo apresentando a vida de duas famílias esfaceladas. Numa delas, temos Doug(James Gandolfini), um homem bem-sucedido, empresário, praticamente aposentado, muito bem casado, mas que leva uma vida vazia. Sua vida perdeu o sentido quando a filha, de 15 anos, morreu vítima de um acidente. Sem ela, sua família não foi mais a mesma. Sua esposa Lois(Melissa Leo) jamais saiu de casa depois disto, sequer para pegar as cartas do correio. Com o tempo eles se distanciaram cada vez mais.

As coisas mudam quando Doug descobre que sua esposa comprou uma lápide ao lado do túmulo da filha, como uma espécie de planejamento para o futuro. Isso o enfurece e desesperado com a vida que leva como se fosse uma espécie de morto que faltasse apenas enterrar, sente que precisa fazer alguma coisa, mas não sabe o quê. “Não estou morto”, diz, “há muitos lá fora que estão mortos e precisam de lápides, mas nós não.”

Numa convenção do trabalho, em Nova Orleans, ele sai abruptamente até chegar num clube de strip. Lá vai parar, por acaso, num quarto de uma stripper, que fica incomodada com o fato de ele não querer transar com ela. Depois de tanto insistir, pensando que ele é um policial, sai aos berros pela casa. No entanto, os dois se encontram, por acaso novamente, e ele pede desculpas, o que culmina numa amizade. Doug liga para esposa, informando que não voltará para casa.

A stripper, interpretada por Kristen Stewart de “Crepúsculo“, sozinha, forma a outra família. Ainda criança, ela perde os pais, também num acidente e acaba por levar uma vida promíscua, sem direção por falta de orientação. Doug enxerga nela a oportunidade de continuar cuidando de sua filha.

A história sofre diversas reviravoltas, que apesar das diferenças e momentos alegres, acaba sendo um retrato fiel de uma família, no caso, remendada, com todas suas contradições. Doug e Lois formam a parte da família sem uma filha e o estrago que isso causa é de certa forma amenizado por uma adolescente sem família, a segunda parte que se complementa.

Temos aqui um verdadeiro drama, coroado por belas atuações que nos fazem sentir a angústia de viver no vazio por estar sem as pessoas que amamos. Jake Scott, o diretor, tem nas mãos seu primeiro trabalho nas telas e mostra que saber fazer mais do que clipes musicais. A trilha sonora, por vezes imperceptível, dá o tom certo para os momentos vazios, aqueles onde sequer podemos ouvir nosso próprio coração.

Infelizmente há pessoas que não podemos substituir. É preciso ser forte para entender e aceitar quando perdemos alguém para sempre. Como disse Hector Abad Faciolince, há momentos na vida em que só podemos nos divertir, mas há outros em que só podemos sofrer. Se sobrevivermos a isso, quer dizer que amadurecemos.

Avaliação: Bom

Artigo publicado orignalmente em www.capitaldaarte.com

sábado, 25 de junho de 2011

Bruno Giorgi e Mocaca

Ou seria melhor, Mococa e Bruno Giorgi? Um não seria o mesmo sem o outro

por Thiago Miota

Neste feriado santo (redundante não é mesmo?) a Capital da Arte precisava descansar um pouco após horas e horas de textos e pesquisas sobre cultura. E o dilema era: qual cidade escolher? Além de pensar nos amigos, precisava ser um lugar que não remetesse a nada relacionado à arte ou cultura. Pois bem, escolhemosMococa, cidade de aproximadamente 70 mil habitantes do interior do estado de São Paulo, que faz divisa com Minas Gerais. Não sabíamos, mas era uma armadilha. Além de sua própria história, Mococa tem entre suas crias o ilustre artista brasileiro Bruno Giorgi. Que falha! Tudo bem, depois que caímos na armadilha e descobrimos onde estávamos pisando, não teve jeito, fomos atrás das histórias. Mas antes de falar sobre ele, é necessário fazer uma apresentação da cidade, aliás, bela cidade.

Vamos começar por seu nome, que significa “casa do pequeno esteio”. Fácil de entender, preciso apenas esquartejar o nome: mu:”pequeno”; co:”esteio”; ca:“casa”(não estranhe o “mu” ao invés de “mo”, por aqui as pessoas puxam o “o” para o “u” mesmo). Fundada em meados de 1840 pelo Barão de Monte Santo, o senhorGabriel Garcia Figueiredo, existe oficialmente como cidade desde 1875. Como diz o significado do nome, havia escravos na região devido a excelente plantação de café, considerada uma das melhores do país (nesta época o Brasil era o principal exportador de café do mundo, o que fazia da cidade uma das melhores do mundo). Contudo, em pouco tempo, veio à abolição da escravidão (como você sabe, em 1988) e os fazendeiros se viram obrigados a optar por outra mão-de-obra: a estrangeira. Em meio aquela onda de imigração ao país, toda italiana embarcando para nossa terra, não foi difícil para os poderosos fazendeiros de Mococa ajeitar a casa novamente. Sendo assim, em pleno nordeste de São Paulo, ocorreu uma forte mistura de europeus como alemães, austríacos e espanhóis, mas, sobretudo, italianos.

Depois da Primeira Guerra Mundial em 1914 e a decadência do café devido ao cenário internacional de crise financeira, a economia do país precisou mudar seu principal produto de exportação. Com Mococa não foi diferente. Ricos, os fazendeiros da cidade passaram então a investir em gado de leite. Por fim, durante aRevolução Constitucionalista, muito em função de sua localização, a cidade foi um dos fronts na batalha entre paulistas e mineiros. É possível verificar no patrimônio histórico da cidade as marcas da guerra.

Mas por que eu contei tudo isso? É que no meio de tudo isso, nasce em 1905, Bruno Giorgi, filho de imigrantes italianos. Ou seja, se não fosse toda essa história, não haveria Bruno Giorgi, nem uma série de outras coisas que vou contar mais adiante.

Como era filho de italianos, e nesta época as coisas por lá estavam melhores do que por aqui, o rapaz foi para Itália. Ainda jovem, envolveu-se com movimentos antifascistas, chegando até mesmo a ser preso, condenado a sete anos de prisão. Graças à intervenção de um embaixador brasileiro, ficou livre para retornar ao Brasil. Mas ele não sossegou. Também tentou participar da revolução espanhola, mas depois desistiu e foi para França, onde participou junto com outros italianos de um certo movimento antifascista através da arte. Ou seja, o cara odiava o fascismo com todas as forças.

Após todos estes conflitos e contato com muita gente culta, talentosa e engajada (Henry Moore, Marino Marini,Charles Despiau e Aristide Maillol), retornou ao Brasil, mais velho, mais maduro. Agora, fincando raízes, o artista começa suas grandes obras, verdadeiros patrimônios da cultura nacional. Seu estilo foi subdividido em três fases que compreendem sua produção nas décadas que vão de 1940 a 1950. A primeira fase, conhecida como figurativa, teve bastante influência acadêmica com vários retratos, bustos e corpos femininos, ora gordos e opulentos, ora alongados e líricos. Na segunda fase, chamada vegetativa, Giorgi mantém a utilização de figuras com hastes e preocupa-se com o dinamismo das obras. Na última fase, mais conhecida, chamada tectônica, as esculturas assumem um significado mais abstrato e um caráter mais arquitetônico.

O primeiro deles foi o “Monumento a Juventude Brasileira“(1947) nos jardins do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro.

Anos depois em Brasília, dos monumentos de sua autoria, destaque para “Os Guerreiros”(1959), mas que depois passou a ser chamado de “Os Candangos”. Com oito metros de altura, a estátua erguida em meio à Praça dos Três Poderes, é uma composição frontal e estilizada de dois corpos em pé. O grupo é quase simétrico, exageradamente plano, com pouca massa e muitos vazios. As figuras apoiam-se uma na outra, cada qual portando uma vara-lança; apenas uma se apoia no chão.

Interessante, mas “Candango” era o nome que os africanos usavam para referir-se a seus colonizadores portugueses, termo pejorativo para um individuo ordinário, ruim. Contudo, no Brasil, a palavra mudou sua conotação, agora referindo-se positivamente as pessoas que trabalhavam na construção da capital. Ou seja,Juscelino Kubitschek era um baita “candangão”. Daí o porque da mudança. Anteriormente “Os Guerreiros”, hoje o monumento é conhecido como “Os Candangos”. Em 1959 a palavra ganhava assim outro estatuto , o de sinônimo de desbravador, de homem que confia no progresso, de brasileiro comum, operário de Brasília. Sobre isso, o próprio Giorgi revelou: “Eu fiz os guerreiros que foram fundidos aqui no Rio de Janeiro. E eu tinha feito uma maquete de um metro e meio ai eles aprovaram, a comissão aprovou, inclusive o Oscar Niemeyeraprovou. Então depois eu ampliei aqui, fiz com 9 metros de altura. Depois tem um pequeno pedestal, depois tem dois elementos que se abraçam que chamam de guerreiro, mas o meu sonho era fazer uma homenagem ao candango. Tanto que depois veio pôr nome de candango. Isso aqui é um monumento aos candangos”.

Ainda em Brasília, além da obra citada, temos o “Meteoro” (1967), no lago do edifício do Ministério das Relações Exteriores, localizado no espelho d’água em frente ao Palácio do Itamaraty. Uma de suas obras em bronze, “Herma de Tiradentes” (1986), se encontra à esquerda da rampa de acesso ao Panteão da Pátria Tancredo Neves, uma justa homenagem a Tiradentes. Um dos seus últimos trabalhos foi o monumento “Integração” (1989), no Memorial da América Latina, em São Paulo. Bruno morreu em 1993.

Entre os habitantes da cidade existe um enorme orgulho em relação ao nome do escultor, sendo difícil encontrar alguém que não o conheça. É possível ver na praça da cidade algumas réplicas de suas obras como “A Esfinge”(1960), como também “Os Candangos”. Aliás sobre isso, há curiosidade um tanto trágica, contada pelas pessoas da cidade. Na praça, em meio há alguns jardins, uma mulher se aproximou e colocou o filho entre os braços da esfinge para tirar fotos. O problema é que a estátua já estava um tanto frouxa, e antes que a mãe esboçasse alguma reação, ela despencou sobre criança, matando-a. Em função disto, a estátua foi retirada da praça por alguns anos, mas está de volta, num local diferente.

Uma bela cidade de cruzamento histórico muito interessante com um dos maiores artistas brasileiros. Conivências a parte, é muito interessante os caminhos da história, seus detalhes. Ver que decisões aleatórias podem desencadear numa série de acontecimentos ao redor do mundo nos fazer perceber que não é possível entender o presente sem olhar para o passado. Enfim, vou voltar para o meu descanso. Espero não encontrar mais armadilhas da arte neste final de semana, senão, vou acabar descansando, com o Bruno. Ah! Sobre os habitantes de Mococa: divinamente hospitaleiros.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Faz Diferença Sonhar?

A viagem do personagem nos mostra que por mais esquisito que seja seu sonho, ele deve ser alimentado

por Thiago Miota

Nunca se afaste de seus sonhos, porque se eles forem, você continuará vivendo, mas também terá deixado de existir. Essas palavras não são minhas, mas do grande escritor Mark Twain, que revelam a importância dos sonhos na vida de alguém, por mais desgraças ou sorte que ele tenha. Os sonhos são o tecido da pele do homem.

No entanto, no caso de Henry(Keanu Reeves), nada disto faz sentido. Em O Crime de Henry(Henry´s Crime, 2010, EUA) ele é uma pessoa que apenas se contenta em ser normal. Da casa para o trabalho, da sua esposa de volta para o trabalho, segue sua rotina inerte. Sem sonhos, vê as coisas acontecendo ao seu redor pacatamente, como se os outros tomassem as decisões por ele, completamente refém das circunstâncias.

Tudo muda quando ele é preso por roubar um banco, crime que não cometeu. Condenado a cumprir três anos, vê sua mulher o trocar por outro homem no momento mais trágico de sua vida. Ele não sofre. Na prisão, conhece o velho Max(James Caan), que lhe pergunta qual era seu sonho. “Acho que não tenho nenhum”, responde Henry. “Bem, o verdadeiro crime é você não explorar o seu sonho”. Passado o tempo de sua pena, agora ele tem um sonho: roubar o banco que não roubou.

O longa marca a estreia de Reeves como produtor. Afastado dos holofotes desde os tempos de "Matrix", apesar de ter feito outros filmes como “A Casa do Lago”, o ator não encontrou o prestígio de outrora. Seu sucesso teve efeitos colaterais, marcando-o como inexpressivo em qualquer papel, fato que ele próprio, agora, parece notar. Aqui, a escolha do personagem torna sua limitação uma virtude.

A intenção do filme é transformar todas as tragédias e infortúnios de Henry em fatos engraçados. Não são. Ao longo da trama podemos ver as mudanças, que aos poucos vai encontrando seu lugar na vida, como quando conhece Julie(Vera Formiga), e decide participar de uma peça de Tchekov. Nada disso será problema, desde que você não espere uma comédia, pois se trata de um verdadeiro drama.

A viagem do personagem nos mostra que por mais esquisito que seja seu sonho, ele deve ser alimentado. Por vezes nos dobramos as imposições que a vida nos faz atribuindo explicações à única verdade: falta coragem. O passo seguinte é a frustração, e a falta de sonhos pode nos fazer ter coisas que não escolhemos. Daí a indiferença diante das tragédias. Twain tinha razão. Os sonhos também podem ser um sofrimento.

Um bom começo para Reeves em sua nova função. Para ficar melhor, falta sonhar com roteiros e diretores melhores.

Avaliação: Regular


domingo, 19 de junho de 2011

Casando com a Pessoa Errada

Mesmo prestes a se casar, ele ainda está dividido entre duas mulheres

por Thiago Miota

Apesar de estar um tanto fora de moda, o casamento talvez ainda seja a decisão mais importante na vida de alguém. As juras de amor não são para alguns meses, mas por toda a vida, independente dos mecanismos legais disponíveis para anular este voto. Ninguém casa pensando que vai dar errado. Pelo menos é assim que deveria ser.

Este é o impasse vivido por Tom(Josh Duhamel) em O Casamento do Meu Ex(The Romantics, 2010, EUA). Mesmo prestes a se casar, ainda está dividido entre duas mulheres. Uma delas, Lila(Anna Paquin), sua noiva, aparentemente é a escolha perfeita: linda de morrer, além de rica também tem como virtude ser responsável a ponto de controlar as loucuras dele, ou seja, a garota da vitrine que todos querem comprar, mas somente alguns sortudos podem bancar. Já Laura(Katie Holmes), sua ex-namorada, mesmo não sendo perfeita em seus atributos de beleza, é a pessoa que o inspira, alguém com que ele sabe dividir e expressar seus sentimentos, alguém que consegue extrair o melhor de suas alucinações. O dilema seria uma espécie de decisão entre a melhor escolha e a escolha certa.

Tudo se passa no dia antes do casamento, com todos preparativos, a chegada dos convidados, os melhores amigos dos noivos. Apesar da festa, há um clima estranho no ar, que todos percebem, mas tentam ignorar resgatando lembranças, fazendo piadas, procurando transformar aquele momento em algo inesquecível. Não basta.

Em vários aspectos, o filme é fraco e deixa a desejar, começando pela montagem e edição. Por vezes somos colocados diante de cenas desnecessárias sem relevância para o enredo e muito menos para o entretenimento. O longa, que já é curto, poderia ter menos de uma hora que ainda assim teríamos momentos de tédio. Mas o pior defeito é o desempenho dos atores, em especial aqueles que fazem os amigos dos noivos. A ideia seria representar uma cena nostálgica num instante de transição na vida do amigo onde aparecem todas as lembranças de momentos marcantes que tiveram, mas que agora iria mudar, ou seja, era a parte onde entrava a emoção. Contudo, o que vemos, através dos atores, é apenas um bando de desconhecidos fazendo farra, totalmente sem inspiração.

A parte boa fica por conta do dialogo entre Laura e Tom, ponto alto do roteiro, onde aparecem citações literárias e boas discussões. Ali dá pra perceber que na verdade ele sabe o que tem que ser feito, sabe quem realmente ama.

Enfim, o que temos é nada mais do que o retrato da covardia de uma pessoa incapaz de tomar a decisão certa, para própria vida e de outras. Quem sofre mais não é o preterido e sim o escolhido. Parece absurdo, mas acreditem em mim, ainda existem histórias assim. Os opostos se atraem para depois morrer de tédio. Melhor morrer de emoção.

Avaliação: Ruim

Artigo publico originalmente em http://capitaldaarte.com

Casando com a Pessoa Errada

Mesmo prestes a se casar, ele ainda está dividido entre duas mulheres

por Thiago Miota

Apesar de estar um tanto fora de moda, o casamento talvez ainda seja a decisão mais importante na vida de alguém. As juras de amor não são para alguns meses, mas por toda a vida, independente dos mecanismos legais disponíveis para anular este voto. Ninguém casa pensando que vai dar errado. Pelo menos é assim que deveria ser.

Este é o impasse vivido por Tom(Josh Duhamel) em O Casamento do Meu Ex(The Romantics, 2010, EUA). Mesmo prestes a se casar, ainda está dividido entre duas mulheres. Uma delas, Lila(Anna Paquin), sua noiva, aparentemente é a escolha perfeita: linda de morrer, além de rica também tem como virtude ser responsável a ponto de controlar as loucuras dele, ou seja, a garota da vitrine que todos querem comprar, mas somente alguns sortudos podem bancar. Já Laura(Katie Holmes), sua ex-namorada, mesmo não sendo perfeita em seus atributos de beleza, é a pessoa que o inspira, alguém com que ele sabe dividir e expressar seus sentimentos, alguém que consegue extrair o melhor de suas alucinações. O dilema seria uma espécie de decisão entre a melhor escolha e a escolha certa.

Tudo se passa no dia antes do casamento, com todos preparativos, a chegada dos convidados, os melhores amigos dos noivos. Apesar da festa, há um clima estranho no ar, que todos percebem, mas tentam ignorar resgatando lembranças, fazendo piadas, procurando transformar aquele momento em algo inesquecível. Não basta.

Em vários aspectos, o filme é fraco e deixa a desejar, começando pela montagem e edição. Por vezes somos colocados diante de cenas desnecessárias sem relevância para o enredo e muito menos para o entretenimento. O longa, que já é curto, poderia ter menos de uma hora que ainda assim teríamos momentos de tédio. Mas o pior defeito é o desempenho dos atores, em especial aqueles que fazem os amigos dos noivos. A ideia seria representar uma cena nostálgica num instante de transição na vida do amigo onde aparecem todas as lembranças de momentos marcantes que tiveram, mas que agora iria mudar, ou seja, era a parte onde entrava a emoção. Contudo, o que vemos, através dos atores, é apenas um bando de desconhecidos fazendo farra, totalmente sem inspiração.

A parte boa fica por conta do dialogo entre Laura e Tom, ponto alto do roteiro, onde aparecem citações literárias e boas discussões. Ali dá pra perceber que na verdade ele sabe o que tem que ser feito, sabe quem realmente ama.

Enfim, o que temos é nada mais do que o retrato da covardia de uma pessoa incapaz de tomar a decisão certa, para própria vida e de outras. Quem sofre mais não é o preterido e sim o escolhido. Parece absurdo, mas acreditem em mim, ainda existem histórias assim. Os opostos se atraem para depois morrer de tédio. Melhor morrer de emoção.

Avaliação: Ruim

Artigo publico originalmente em http://capitaldaarte.com

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Com pouco tempo

Apesar de ser um suspense de ficção científica, o filme vai além apresentando questões existenciais

O que você faria se tivesse menos de um minuto de vida? Bem, esse é o tema do novo filme de Duncan Jones, que para quem não conhece, é filho do famoso cantor David Bowie. Contra o Tempo(Source Code, 2011, EUA) conta a história do capitão Colter Stevens(Jake Gyllenhall), que acorda repentinamente dentro de um trem conversando com uma mulher deslumbrante(Michelle Monaghan), desconhecida para ele, mas estranhamente, conhecido para ela. Desnorteado, sai pelos vagões até chegar ao espelho e ver a imagem de uma pessoa que não é ele mesmo. Após alguns minutos, oito mais precisamente, uma bomba explode todo trem, e ele acorda preso numa fria cápsula em alguma base militar altamente secreta sendo interrogado exaustivamente por uma agente sobre a localização da bomba.

Sem as respostas, ele volta para a mesma cena, do zero, mesmo lugar, mesmo trem, mesmas pessoas e acontecimentos. Nova explosão. Mais perguntas. Com o tempo e mais informações, ele entende que está participando de um programa do governo. O projeto baseia-se no fenômeno da sobrevivência dos oito minutos finais da memória pós-morte cerebral. O Dr. Rutledge (Jeffrey Wright), mentor do experimento, capturou os oito minutos finais da memória de Sean Fentress(a pessoa que ele entra) que esteve na explosão e, através do programa computacional “Código Fonte” faz com que Colter seja inserido nesses minutos finais repetidas vezes, através da identidade de Sean. Há um terrorista aprontando uma série de atentados pela cidade, e descobrir a origem daquele é fundamental para evitar os demais. Eis a trama.

Apesar de ser um suspense de ficção científica, o filme vai além apresentando questões existenciais. Colter volta inúmeras vezes para a mesma cena, mas a cada volta, vê as coisas de um jeito diferente produzindo resultados diferentes. Mesmo sabendo que após cada morte ele terá a chance de voltar e fazer às mesmas coisas, aquele fim eminente, a proximidade com a morte, faz com que ele veja a vida de uma forma diferente. E quando percebe isso e olha a seu redor, é como se todas as outras pessoas já estivessem mortas presas em suas rotinas. Ou seja, sua missão de salvar vidas não se resume apenas a bomba.

O argumento do filme é excelente, procura dar boas explicações para criação deste universo paralelo e deixa o gostinho da dúvida em nossa cabeça de se é possível ou não existir algo assim. Como seria nossa vida em outro universo? Tomando decisões diferentes, seriamos diferentes?

Aqui o filho de Bowie prova que pode se desvencilhar do nome do pai, tem talento, mas bem que poderia pegar emprestada a canção “Under Pressure” para trilha sonora. Na sua primeira produção hollywoodiana, saiu-se muito bem, sem apelar para os clichês, com exceção de algumas partes, sem exageros.

Mas então, o que você faria se tivesse menos de um minuto de vida? Talvez o importante não seja como responderíamos essa pergunta, e sim, que entendêssemos sua magnitude e tivéssemos a oportunidade de continuar a viver, para fazer melhor, de uma forma diferente.

Avaliação: Bom